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Em Pauta: Inflação

Notícias

Sem medo de crescer

09 de agosto de 2013

Com o bom crescimento econômico previsto para este ano, surgem críticas de que já passou da hora de botar o pé no freio, para impedir o descontrole inflacionário. Essa é a velha tese que sempre causou problemas ao crescimento natural da economia. O medo de crescer.

Para tentar esfriar o consumo, o Banco Central iniciou o processo de elevação da Selic e o governo federal ampliou o corte nas despesas.

Creio que o impulso da demanda não será contido por essas iniciativas. A demanda é composta 20% pelos investimentos e 80% pelo consumo. Os investimentos deverão crescer 20% neste ano, e o que mais impulsiona o crescimento é o consumo: 75% por parte das famílias e 25% do governo.

O consumo das famílias depende da massa salarial e da oferta de crédito. A massa salarial responde ao nível de emprego e deverá crescer acima de 2 milhões de novos trabalhadores com carteira assinada neste ano, e os rendimentos médios deverão apresentar ganhos acima da inflação. A oferta de crédito deve expandir 20% neste ano e as taxas de juros ao consumidor, dado o alto spread bancário, se descolaram da Selic, ou seja, esta pode subir, mas as taxas ao consumidor podem não se mover. Portanto, não deve ocorrer redução do consumo das famílias.

O consumo do governo depende 57% do governo federal e 43% dos estados e municípios, as despesas acompanham normalmente a evolução das receitas, que estão subindo 12% acima da inflação. Já considerando os cortes no orçamento federal, caso os estados e municípios utilizem integralmente sua arrecadação para despesa, por se tratar de ano eleitoral, a participação do setor público seria anulada para conter o consumo.

Assim, não vai adiantar pôr o pé no freio, pois a economia crescerá descontando a perda de 2009. E a inflação vai então disparar? Não creio. No primeiro quadrimestre tivemos impacto inflacionário especialmente nos preços dos alimentos, devido às fortes chuvas, mas isso já mudou e a inflação a partir de maio/junho deve retroceder.

As empresas estão ampliando a produção neste ano para perto de 10%. Mas, se elas contribuem para elevar a oferta, o BC trabalha na direção oposta à redução da inflação, pois o nível elevado da Selic e seu anunciado crescimento atuarão sobre as decisões do setor privado, que pode preferir aplicar em títulos do governo federal ao invés de investir, o que reduz a oferta.

Sob o aspecto da formação das expectativas, o BC, ao agir de forma conservadora, prevendo a formação de uma inflação futura, pode induzir os agentes econômicos a se antecipar ao cenário da inflação projetada, com consumidores adiantando compras e empresas tentando remarcar preços. É a contrateoria das expectativas, que pode estar ocorrendo quando existe um BC considerado como um dos mais conservadores do mundo.

Felizmente, nos próximos anos se terá uma megaoferta internacional de bens e serviços devido à estagnação nos países desenvolvidos e sua pressão para exportação. Além disso, a China aumentará a pressão para exportar aos mercados emergentes, como compensação das perdas de exportação aos países desenvolvidos. Assim, não faltarão produtos com qualidade e preços competitivos para atender eventuais lacunas da produção local.

Crescimento maior neste ano é natural, dada a fraca base de comparação, o que não se repetirá em 2011. Portanto, não creio que se terá ameaça de inflação por falta de produção ou de oferta externa neste e nos próximos anos. Ao contrário, é a política de expansão do consumo que torna viável o crescimento em níveis mais elevados e sustentáveis, reduzindo custos de escala para as empresas, estimulando a produtividade e atiçando a competitividade. É daí que brotam os lucros para a poupança necessária aos investimentos, uma vez que 90% deles vêm das empresas.

Finalmente, face aos riscos crescentes de uma crise europeia mais séria, é melhor tirar logo o pé do freio e colocá-lo no acelerador. Sem medo de crescer.

Amir Khair é mestre em Finanças Públicas pela FGV e consultor

– See more at: http://www.teoriaedebate.org.br/colunas/economia/sem-medo-de-crescer#sthash.m4nUJm1B.dpuf

Fonte: Revista Teoria e Debate

Publicado em 01 de maio de 2010.

Por Amir Khair

 

Com o bom crescimento econômico previsto para este ano, surgem críticas de que já passou da hora de botar o pé no freio, para impedir o descontrole inflacionário. Essa é a velha tese que sempre causou problemas ao crescimento natural da economia. O medo de crescer.

Para tentar esfriar o consumo, o Banco Central iniciou o processo de elevação da Selic e o governo federal ampliou o corte nas despesas.

Creio que o impulso da demanda não será contido por essas iniciativas. A demanda é composta 20% pelos investimentos e 80% pelo consumo. Os investimentos deverão crescer 20% neste ano, e o que mais impulsiona o crescimento é o consumo: 75% por parte das famílias e 25% do governo.

O consumo das famílias depende da massa salarial e da oferta de crédito. A massa salarial responde ao nível de emprego e deverá crescer acima de 2 milhões de novos trabalhadores com carteira assinada neste ano, e os rendimentos médios deverão apresentar ganhos acima da inflação. A oferta de crédito deve expandir 20% neste ano e as taxas de juros ao consumidor, dado o alto spread bancário, se descolaram da Selic, ou seja, esta pode subir, mas as taxas ao consumidor podem não se mover. Portanto, não deve ocorrer redução do consumo das famílias.

O consumo do governo depende 57% do governo federal e 43% dos estados e municípios, as despesas acompanham normalmente a evolução das receitas, que estão subindo 12% acima da inflação. Já considerando os cortes no orçamento federal, caso os estados e municípios utilizem integralmente sua arrecadação para despesa, por se tratar de ano eleitoral, a participação do setor público seria anulada para conter o consumo.

Assim, não vai adiantar pôr o pé no freio, pois a economia crescerá descontando a perda de 2009. E a inflação vai então disparar? Não creio. No primeiro quadrimestre tivemos impacto inflacionário especialmente nos preços dos alimentos, devido às fortes chuvas, mas isso já mudou e a inflação a partir de maio/junho deve retroceder.

As empresas estão ampliando a produção neste ano para perto de 10%. Mas, se elas contribuem para elevar a oferta, o BC trabalha na direção oposta à redução da inflação, pois o nível elevado da Selic e seu anunciado crescimento atuarão sobre as decisões do setor privado, que pode preferir aplicar em títulos do governo federal ao invés de investir, o que reduz a oferta.

Sob o aspecto da formação das expectativas, o BC, ao agir de forma conservadora, prevendo a formação de uma inflação futura, pode induzir os agentes econômicos a se antecipar ao cenário da inflação projetada, com consumidores adiantando compras e empresas tentando remarcar preços. É a contrateoria das expectativas, que pode estar ocorrendo quando existe um BC considerado como um dos mais conservadores do mundo.

Felizmente, nos próximos anos se terá uma megaoferta internacional de bens e serviços devido à estagnação nos países desenvolvidos e sua pressão para exportação. Além disso, a China aumentará a pressão para exportar aos mercados emergentes, como compensação das perdas de exportação aos países desenvolvidos. Assim, não faltarão produtos com qualidade e preços competitivos para atender eventuais lacunas da produção local.

Crescimento maior neste ano é natural, dada a fraca base de comparação, o que não se repetirá em 2011. Portanto, não creio que se terá ameaça de inflação por falta de produção ou de oferta externa neste e nos próximos anos. Ao contrário, é a política de expansão do consumo que torna viável o crescimento em níveis mais elevados e sustentáveis, reduzindo custos de escala para as empresas, estimulando a produtividade e atiçando a competitividade. É daí que brotam os lucros para a poupança necessária aos investimentos, uma vez que 90% deles vêm das empresas.

Finalmente, face aos riscos crescentes de uma crise europeia mais séria, é melhor tirar logo o pé do freio e colocá-lo no acelerador. Sem medo de crescer.

Amir Khair é mestre em Finanças Públicas pela FGV e consultor

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